A vida começa aos 50, 60, 70, 81… Ou o processo do envelhecimento se inicia desde que somos gerados? As pequenas transformações já aconteceram. Imagina com 74 anos, quantas transformações: corpo físico e psíquico mudaram de forma, de aparência, de estrutura, metamorfosearam-se, ou seja, sont devenus vieux.

A origem da palavra “vida” – em hebraico significa por um plural, hayyim – evoca, chama aquilo que é mais caro ao ser humano: Viver.

Em francês, vie = vida;

No latim, vita = vida;

Em espanhol, vida = vida;

Em francês, vieillissement = envelhecimento;

Vieillir = envelhecer;

Être vieux = ser velho;

Vieux/vieille = velho(a); âgé/agée idoso(a).

E assim vamos caminhando para nossas velhices… Compreendendo, aos poucos, com pesares e  olhares para o passado, relembrando a juventude, saudoseando a saudade e, através da memória, contando, cantando, escrevendo, desenhando, bordando, pintando, construindo relacionamentos novos e cuidando dos amigos mais velhos que estão no entorno das nossas velhices: cada “ruga”, mudanças dos óculos (lente aumentou, necessário trocar), perda da audição ou surgimento de um barulhinho estranho batizado de zumbido chega – devagar, no primeiro momento; entre outras perdas e ganhos (de peso), surgem. E ouvimos: -você faz musculação?. Sim, com muita preguiça e determinação, pois não quero ficar uma velha dependente e muitos menos sem músculos para a minha mobilidade.

O que é o nosso desejo para os netos?

Quero deixar para os meus netos minhas receitas favoritas, ou melhor, fazer um caderno com ilustrações em homenagem à gastronomia.

Um álbum de fotos desde o nascimento até o momento onde eu posso escrever poesias, copiar poesias de Cecília Meireles, Adélia Prado, Cora Coralina, Carlos Drumond ; letras de músicas que sei que tocaram as almas pelo viés da emoção – Baby (Gal Costa), Alegria, Alegria (Caetano Veloso); registrar as nossas histórias antes da invasão tecnológica e que no tempo “atemporal” era um outro tempo – com tempo de tempero, brincadeiras de rua, telefone sem fio e de “quem conta um conto aumenta um ponto” – seja ponto cruz, ponto cheio, ponto alinhavo, ponto mosca, ponto do avesso com direito ao reverso.

E que é possível o amor quando estamos de alma inteira na interação que invade a comungação – a comunhão nos encontros com meus netos é o maior testado a transmitir para a nova geração (netos, sobrinhos, sobrinhos netos); a possibilidade de uma existência que reflita os valores, as realizações, os encontros “verdadeiros” e honestos, uma marca, um registro social, individual, um ensinamento (ou vários) que possa ou se permitir sonhar e transformar-se em si e o outro, o outro e o coletivo, o coletivo e o mundo.

“…um homem sozinho é apenas um animal…”  O Paraíso são os outros (Valter Hugo Mãe).

O processo de envelhecer é a benção que ganhamos por estarmos vivos, aprendendo, trocando, sonhando e buscando a compartilhação com o mundo…

“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. (Tom Jobim).

 

(* Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga e especialista em moda no envelhecer